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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

"Garage" -  Lenny Abrahamson (2007)






A grande solidão e fragilidade humana, numa interpretação memorável do ator (que se estreou neste filme) Pat Shortt.




terça-feira, 24 de novembro de 2015

Carlos Eurico da Costa -  "Cadernos 3" (2004)






"Cadernos 3" é uma antologia organizada pela Fundação Cupertino De Miranda (sob a direção de Perfecto E. Quadrado) no âmbito da iniciativa Cadernos do Centro de Estudos do Surrealismo. Para além dos textos de grande força poética estão também presentes alguns fascinantes desenhos feitos pelo próprio Carlos Eurico da Costa (1928-1998).


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Basta de reabilitações.
Conheço as leis mais severas que são da nossa inata maldição:
a praga dos ventos rondando os corpos
os sorrisos da festa mortal vivida no ar
olhos libertando outra força e outro flanco
uma árvore branca e a última casa do mundo.
Possuamos, amigos, uma flor na manhã
a argila da morte
tenhamos uma farta corda de espectros envolvendo-nos o corpo.
Nós, que procuramos onde vive a sombra
e irresolutos descobrimos a fúria
nós, que temos ainda uma palavra para a definitiva verdade
entre armaduras de oiro e silêncio da água
entre corpos adormecidos que na noite vão crescendo
e na berma das estradas aguardam salvação
crescidos para os limbos mais impuros da terra

teremos a própria existência a vida que merecemos
a moderna altura que nos asfixia.





Lisboa, 10 de Maio, 1952
 
 
 
 
 
(Editora: Edição Fundação Cupertino de Miranda)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

The Prophecy - "Echoes" e "Belief Means Nothing"


"Echoes" e "Belief Means Nothing" são duas composições da banda inglesa The Prophecy. Pertencem ao álbum «Into the Light» (2009).









Tão cheia de vozes
que se anulam
esta morada,

esta chegada
ao termo da viagem,
esta partida

para a noite-margem.
Tão fina esta lâmina
que fundo fere

a água, a líquida paisagem.
Tão esquecida
esta face, este rio,

a corrente que nos empurra,
a treva
que nos impele.




LUÍS QUINTAIS, do poema "Canção", livro «Umbria»










sábado, 17 de outubro de 2015

"Lourdes" - Jessica Hausner (2009)






Retrato mordaz de um dos lugares mais icónicos do cristianismo (catolicismo). Religião na sua crueldade e hipocrisia.



terça-feira, 6 de outubro de 2015



Entrar e levar com as portas automáticas no corpo
Contar as rotações
Desenhar gráficos com setas
Esperar a empilhadora passar
Ser especializado
Parar não é competitivo
Proteger o corpo
Analisar dados
Pedir um favor
Entrar no andaime
Lamentar as máquinas que precisam de parar
Meter uma moeda e carregar no botão
Indicar risco de acidente
Traçar metas
Perseguir eficiência
Olear o metal
Pesar
Gastar o salário
Um inseto acelera assim que deixa de ficar entre alguma coisa e a parede
Celebrar contrato com termo
Reparar e o funcionamento continua
Mesas sem área livre
Arrastar peças
Trabalhar pelo prémio
Apertar as mercadorias por forma a caberem todas no mesmo caixote
Acionar travões
Mãos suadas a segurarem matéria-prima




Miguelsalgado, «O voo Mágico»

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Um excerto da primeira parte do livro  «O Voo Mágico»:


(...)
Ponto alto para ver o que está em baixo
Faltou comprar uma coisa
Proibido excepto aos moradores
Ficar um bocado em frente à campa
Tempero para polvos pequenos
Mês com o salário no dobro
Beber 1 litro e meio de água por dia
Download quase completo
Meteu detergente
Pai Natal sem barriga a distribuir rebuçados de fruta
Visitar o vizinho
A volta no carrossel dura pouco para as crianças
É para fazer dia sim, dia não
Manter o frio num aparelho quente à superfície
Trincou a própria língua
Colecionar miniaturas
Pessoas correm com garrafas de água atrás dos ciclistas
Somar na cabeça
O arrumador quer moedas ou risca a chapa
Andar na zona verde
Ao fim-de-semana supermercado
Emagrecimento para o verão
O cão preso
Estendeu o mesmo tapete duas vezes num dia
Vê-se um bocado das nádegas
Falar sem pensar
Moeda única no chapéu virado ao contrário
O bolo foi todo
A roupa a secar foi estendida cedo e se tiver sol talvez esteja seca à tarde
Passa a mão na cabeça do filho
Cheiro que abre o apetite
Marcha lenta com um cadáver metido num caixão na parte de trás de uma carrinha preta
Voo low-cost
Massagem no corpo
Rio roxo
Estão no Shopping
Bolor no queijo
Meter o termómetro debaixo do braço e esperar 5 minutos
Tiram a casca às castanhas
Fica-se um bocado em frente a espécies atrás das grades
Entroncamento
Levou a mão à parede para não cair
Depois varrer a cozinha
Jogam ao esconde-esconde e escondem-se atrás dos carros mal estacionados
Mercados bolsistas bear
Alimenta-se a fogueira
Meia quase a romper
Recordar o sonho de ontem
Duas mãos a baterem uma na outra fazem palmas
Uma mulher limpa a entrada do prédio
Os vizinhos entram com passada larga e alguns pedem desculpa pois vão sujar.



Miguelsalgado, «O voo Mágico»

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Tristitia - "Garden of Darkness" (2002)





1 The Entrance (2:08)
2 Path I: Beholder's Tears (6:20)
3 Path II: Black Godz Serenade - Part I (1:35)
4 Path III: As Death Says Mine (13:13)
5 Path IV: When Tears Cry (11:58)
6 Path V: Beyond The 7th Valley (1:44)
7 Path VI: There Will Never Be Another Dawn (10:20)
8 Path VII: Black Godz Serenade - Part II  (1:57)
9 Path VIII: Tears Of The Moon (9:07)


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Um morto vem visitar-te. Do coração corre-lhe o sangue que ele próprio verteu, e no sobrolho negro aninha-se um instante indizível. Encontro lúgubre. Tu – uma lua de púrpura, quando o outro aparece na sombra verde da oliveira. Segue-o a noite eterna.



GEORG TRACKL, Outono Transfigurado (tradução de João Barrento)







quarta-feira, 15 de julho de 2015

Miguelsalgado - "O Voo Mágico" (2015)





VOO MÁGICO 

Arrebatamento paranormal ou sobrenatural de um homem. Estritamente falando, o voo mágico consiste no facto de um homem, que se crê dotado de poderes mágicos, se lançar de uma grande altura no ar e, geralmente… despenhar-se no solo.
“Citianus (…) tinha um discípulo chamado Terebintus, (o qual) declarou chamar-se Buda, ter nascido de uma virgem e ter sido alimentado nas montanhas pelos anjos. (…) Uma manhã, tendo subido ao terraço, tentou voar mas despenhou-se no solo” (texto citado por H.-Ch. Puech, Le Manichéisme, 1949, p.23).



PIERRE RIFFARD, Dicionário do esoterismo



 





sábado, 4 de julho de 2015

Gottfried Benn - "Homem e mulher passam pelo pavilhão dos cancerosos"





Embora não seja propriamente um desconhecido (mas também muito longe da popularidade, pelo menos por paragens nacionais), lembrei-me de colocar aqui um dos textos mais extraordinários que conheço. Gottfried Benn (1886-1956) escreveu-o para uma das suas primeiras obras: "Morgue e outros poemas" de 1912.


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Homem e mulher passam pelo pavilhão dos cancerosos



O homem:
Nesta fila aqui estão ventres apodrecidos
e nesta está o peito apodrecido.
Lado a lado camas malcheirosas. As enfermeiras revezam-se a cada hora.

Vem, levanta sem medo esta coberta.
Vê, esse monte de gordura e sumos putrefatos
para um homem um dia já foi tudo,
também foi êxtase, lar.

Vem, olha esta cicatriz no peito.
Sentes o rosário de pontos moles?
Toca, sem medo. A carne é mole e não dói.

Esta aqui sangra como se de trinta corpos.
Ninguém tem tanto sangue.
Desta aqui ainda tiraram
um filho do ventre canceroso.

Deixa-se que durmam. Dia e noite. - Aos novos
diz-se: aqui o sono cura. - Só aos domingos
para as visitas podem estar mais despertos.

Já se come pouco. As costas
são feridas. Vês as moscas. Às vezes
a enfermeira lava. Como se lavam bancos.

Aqui o solo já incha em torno de cada leito.
Carne nivela-se à terra. Brasa vai-se embora.
Sumo começa a correr. Terra chama.





GOTTFRIED BENN (Tradução de Cláudia Cavalcanti)

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Leadlight Rose - "Follow", "All knowing eyes"  e "Sanctuary"


Os títulos acima são 3 temas da banda Leadlight Rose. Fazem parte do álbum «Sweet Obsession» (2012)







A banda

Os Leadlight Rose são uma banda australiana formada em 2007 pela colaboração da vocalista Ellah Rose e do baterista Geoff Irish.
«Sweet Obsession» é o primeiro álbum e provavelmente o último, uma vez que a vocalista e fundadora da banda  anunciou o término do projeto pouco tempo depois da sua edição.




Os temas

brutalmente a tempestade atirou meu corpo contra o teu, criámos o relâmpago e o cheiro a enxofre, sem o sabermos. uma mosca pousou nos olhos, cegando-me num instante. serás tu a minha cegueira? só nela te encontro e amo. manhã de ausências, dúvidas, receio de não amanhecer contigo, nunca mais. teu rosto resplandece de luz enquanto eu adormeço, ou morro, tanto faz. /



AL BERTO, À procura do vento num jardim d`agosto









quarta-feira, 29 de abril de 2015

Process of Guilt - «Erosion» (2009)




 
 
 

1. Dust (The Circle Part I)  (11:18) 
2. Waves (The Circle Part II)  (08:23)
3. Corrosion (The Circle Part III)  (09:27)
4. Lava (The Circle Part IV)   (08:59)  
5. Abandon (The Circle Part V)  (14:15)  
6. The Circle (Erosion Part I)  (05:07) 


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"Foi bem dito acerca de um certo livro alemão que “es lasst sich nicht lesen” – ele não consente ser lido. Existem alguns segredos que não consentem ser contados. Morrem homens durante a noite nas suas camas, apertando as mãos de confessores fantasmagóricos, fitando-os piedosamente nos olhos – morrem de coração desesperado e garganta convulsa, à conta da repugnância dos mistérios que não se sacrificam à revelação. Aqui e ali, infelizmente, a consciência do homem carrega um fardo de horror tão pesado que apenas na cova poderá ser despejado."


EDGAR ALLAN POE, O homem da multidão (tradução de Vasco Gato)






quarta-feira, 8 de abril de 2015

"Soldier of God" ("Soldado de Deus") -  W.D. Hogan (2005)






«Na terra da encarnação apareceu uma nova cavalaria. É nova e ainda inexperiente no mundo, onde trava um combate duplo, ora com adversários de carne e sangue, ora contra o espírito do mal nos corações… o cavaleiro verdadeiramente não tem medo e não é censurado, protegendo a sua alma com a armadura da fé, do mesmo modo como cobre o corpo com uma cota de malha. Duplamente armado, não tem medo nem dos demónios nem dos homens. É certo que aquele que deseja morrer não tem medo da morte. E como temeria morrer ou viver aquele para quem a vida é o Cristo, e a morte a recompensa?
«… Cavaleiros, ide satisfeitos, ide tranquilos, repeli com intrepidez os inimigos da cruz de Cristo, certos de que nem a vida nem a morte nos poderão excluir do amor de Deus que está em Jesus Cristo: felizes e gloriosos aqueles que voltam vencedores, mais felizes ainda aqueles que são mortos no combate!…»



BERNARDO DE CLAIRVAUX, De Laude Militae (retirado do livro «Os Grande Julgamentos Da História - Templários»)

 

sábado, 21 de março de 2015

Miloslav Kabeláč - "Mystery of Time" Op. 31 (1953–57)





O compositor

Miloslav Kabeláč (1908-1979) é um compositor e maestro nascido em Praga, atual República Checa. Ingressou no Conservatório da mesma cidade em 1928 e compôs em praticamente todos os géneros, excepto ópera. Devido aso seus ideais democráticos e humanistas a sua obra foi afastada pelos regimes totalitários que controlavam o país.



"Mystery of time" Op. 31



Agora
para ele
o tempo não tem
mais sentido

e só a morte
fidelíssima
continua à sua espera




LUÍS SERRANO, Nas colinas do esquecimento









quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Crysalys - "Angelica", "When sirens sing" e "Lilium" 


Os titulos acima são 3 composições da banda italiana Cryalys. Fazem parte do álbum «The Awakening of Gaia» (2011)







“Mas, direis vós: a borboleta, essa flor que voa?...Imagino uma do tamanho de cem universos, com asas de que não posso sequer exprimir a forma, a beleza, a cor e o movimento. Mas vejo-a... Volita de estrela em estrela, refrescando-as e perfumando-as com o hálito harmonioso do seu voejar... E os povos lá de cima vêem-nas passar, extasiados e felizes!...”



GUY DE MAUPASSANT, O Horlá (tradução de Jorge Reis)













quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Edward Bond - "Coros para depois dos assassinatos" (2002)






"Coros para depois dos assassinatos", do escritor inglês Edward Bond, foi publicado pela primeira vez em 1983 sob o nome "Choruses from After the Assassinations".

Posteriormente, o autor escreveu:

“Depois dos Assassinatos é o título de uma peça. Eu decidi publicar apenas estes coros. Originalmente, eram discursos das personagens da peça. Chamei-lhes coros na esperança que encorajasse uma atitude de reflexão.”

E.B.

Dezembro 1997

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Amor


As pessoas casam por amor
Depois passam uma vida de escravidão para pagar a cama
Acabam zangados e estúpidos com ódio do mundo
Eles têm filhos para amar
Depois amaldiçoam-nos e alguns deles partem os braços
O jogador dá as suas últimas libras a uma rapariga num beco e depois pontapeia-a insensivelmente para as recuperar
O amor levou-os para o beco
Não digam que o amor é mais puro do que aquilo
Os Generais têm misseis porque nos amam
Quando fritarmos eles vão chorar por nós nos seus bunkers
Vocês aguentam em qualquer cabana desde que lá dentro haja amor
Desde que consigam dizer “amor torna-nos humanos” não precisam de se preocupar em agir como humanos e limpar a confusão
Vocês patinham na vossa pilha de estrume e apelidam-se de santos
Se um Deus fez o mundo pôs amor nesse mundo para que não conseguíssemos torná-lo melhor e mostrar que não precisamos de Deuses
Bom se Deus fez o mundo espero que tenha lavado as mãos logo a seguir
Aonde começou a loucura?
Houve uma era de milagres
Apareciam constantemente notícias de milagres
O mar dividiu-se e um exército atravessou-o!
Os cegos conseguiam ver e saltaram sobre os seus paus!
Mortos apareceram de repente como fugitivos!
Cinco mil desempregados numa praça?
Está bem – alimentem-nos com este pequeno cesto de pão e peixe
Tempestade no mar? Não construam um bote salva-vidas – deixem-nos caminhar!
Maus vizinhos a pedirem constantemente o vosso cortador de relva?
Ofereçam-lhes o cortador de relva!
Agora eles enegrecem o vosso olho porque não lhes cortaram a relva?
Dêem a outra face!
Outro milagre? – por que não?

A era dos milagres está morta e será preciso mais do que um milagre para a trazer de volta
É por isso que os homens saíram nus para a charneca para gritar à tempestade
Agora os mísseis estão na charneca




EDWARD BOND, Coros para depois dos assassinatos (tradução de Luís Mestre)
 




(Editora: Quasi Edições)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Forest of Shadows - "Departure" (2004)






1. Sleeping Death (16:57)
2. November Dream (10:44)
3. Bleak Dormition (05:20)
4. Open Wound (13:55)
5. Departure (14:19)


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"As estrelas, no negro céu, começaram a surgir e cintilavam sobre um mar de tons de tinta preta que, pintalgado de espuma, lhes devolvia o brilho da luz pálida e evanescente de uma brancura estonteante nascida da tormenta negra das ondas. Remotas, na sua tranquilidade eterna, cintilavam, fortes e frias, acima do tumulto da terra; rodeavam o vencido e atormentado barco; mais impiedosas do que os olhos de uma multidão triunfante, e tão inacessíveis quanto os corações dos homens."                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
JOSEPH CONRAD, O Negro do Narciso (tradução de Luzia Maria Martins)