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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

"Razredni sovraznik" ("O inimigo da turma") - Rok Bicek (2013)







"A morte de um homem afeta mais quem fica do que a ele mesmo"



THOMAS MANN (frase citada durante o filme)
 
 

sexta-feira, 2 de novembro de 2018



RESSURREIÇÃO


Estavas a descansar as pernas no banco do cemitério quando um som vindo debaixo da terra te fez levantar. Um cadáver batia na tampa do caixão. E o cadáver ergueu-se do caixão. E dirigiu-se para o exterior do cemitério. E começou a atirar ossos sujos ao ritmo da rua. E ainda hoje vira as costas quando alguém lhe pede para parar.


Quando tentas-te ligar música disseram-te que não se pode ligar música no cemitério. Ainda hoje te dizem que não se pode ligar música no cemitério. E querias bater em quem te diz que não se pode ligar música no cemitério. Mas desequilibras-te com a rajada de vento soprada por palavras de deus apoiadas numa parede sólida. Por estar unida de cima a baixo com sangue sujado entre os espaços vazios.


Resignação no espaço entre os dentes caninos. Trepanação no crânio. O que viste sobrar de um doente foram manchas no tecido. Depois a máquina de lavar apagou-as. Bodega. Degredo. Imprecisão. Dor. E matéria funerária passiva. Eis o Reino.


Abres a porta de casa com um pé-de-cabra. O monge de costas no quadro de C. D. Friedrich desata a correr pela paisagem. A olhar para trás. Para confirmar se está a ser perseguido pelo teu medo.


Estão aí os corpos em maratona sem meta. As formigas que carregam 9471 vezes o seu peso às costas. As pessoas com movimentos perigosos na folha do electrocardiograma. As cabeças debaixo dos secadores individuais. Pétalas mecânicas a crescer no vegetal no vaso.


Está aí o colar sentimental com um preço. Os tapetes para limpar a sujidade antes de entrar. Gente que anda às voltas com pressentimento de abalo. Bichos subterrâneos que passam de passeio para passeio. De sala para sala. Bichos subterrâneos que passam para onde podem.


Estão aí os olhos a fechar. E trazem o sono à tarde que não te pertence. Mordaças em miolos expostos ao ar condicionado. Casulos prestes a rebentar em Negrume cósmico.


Onde se deve guardar a dor sem doer? Aguarda por um som que te diga onde se deve guardar a dor sem doer.


No habitat natural vês a queda de um fio de vómito preso na pétala. Mãos com Parkinson dividem o pão. Desaguas nas caras da secção de necrologia do diário informativo. Há ossadas espalhadas junto aos teus pés magoados. Abraças um suicida morto no princípio do dia. Apontas para os dentes no céu e deixas cair os olhos.
Debaixo da tua máscara sobre a tua máscara sobre a tua máscara sobre a tua máscara há pele translúcida dentro do sepulcro.


Ressuscita-te fantasma, fantasma. 






Miguelsalgado, Escuro

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Bellow The Sun - "Cries of dying stars", Dawn for nobody" e "Blind Ocean"

Os 3 títulos acima são composições da banda russa Bellow The Sun. "Cries of dying stars" pertence ao álbum «Envoy» (2015). As outras duas fazem parte do álbum «Alien World» (2017).


 
 
 
 
Agora que o mundo deslizou como uma bola
das mãos de deus e cruza a noite vazia
dos espaços sabemos que a morte nos espera
disposta como uma refeição à nossa mesa.
Rendemos à sorte de cada minuto as nossas
vidas e corremos de monte em monte como
correria uma canção levada pelo vento.
 
 
 
PAULO TEIXEIRA, Inventário e despedida
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Egito Gonçalves - "Entre mim e a minha morte há ainda um copo de crepúsculo" (2006)






Obra póstuma de Egito Gonçalves (1920-2000), com um ou outro texto incompleto, num livro mais do que Completo.


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CINEMA RIVOLI


Por dez tostões subíamos à galeria.
Do alto víamos as divas, aprendíamos
a beijar -- mal, é evidente: o código
Heyes lá estava para nos impedir
de estremecer a fundo. A Garbo punha
nas nossas namoradas olhares lânguidos.
As divas eram todas grandes damas,
nunca se despiam sob o olho guloso e,
mesmo na banheira,
apareciam sob uma espessa cortina
de espuma: a inveja dos que em casa
se lavavam com sabão azul. E havia
(coisa fina!) os que se masturbavam
com o olho nas pernas da Marlene. Lia-se
“O Cinéfilo”, a vida íntima das estrelas
ganhavam-se ideias para os bilhetinhos
que se passavam para as mãos das miúdas.
As aulas começavam à segunda-feira
com a briga dos adeptos
(ou já seriam fãs?) das duas “rivais”.
Depois a professora entrava, encavalitava
os óculos de aro metálico e dizia: Meninos,
hoje vamos dar... Ainda estávamos longe
da época Ava Gardner, da mítica Marilyn,
das pernas marlénicas da Cyd Charisse...
Longe das audácias dos anos noventa: mamas e
rabos, fuck explícito, palavrões a granel.
Cada geração inventa o seu reco-reco…





EGITO GONÇALVES, Entre mim e a minha morte há ainda um copo de crepúsculo





(Editora: Campo das letras)

terça-feira, 21 de agosto de 2018

"Lucent" - Chris Delforce (2014)
 
  
 




As atrocidades num dos muitos campos de concentração do século XXI.






Documentário completo:

https://www.youtube.com/watch?v=KArL5YjaL5U&t=3385s

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Emma Santos - "O Teatro" (1981)







Um grito nos Hospícios. Um grito abafado pelas paredes deste imenso teatro.



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"As palavras estão velhas, ridículas. Mercadoria estragada, restos que por esquecimento se não limparam. Repugnante. As palavras ficam no exterior da cidade, nas zonas de entulho. Às palavras, lançam-se-lhes pedras, aos loucos, escarra-se-lhes em cima. As palavras loucas seguem o seu caminho, sozinhas, sem amor. Arrastam-se moribundas, vão para o hospital e pedem que as capem."



EMMA SANTOS, O Teatro
 
 
 
 
(Editora: Assírio e Alvim)

quarta-feira, 7 de março de 2018

"Çoğunluk" - Seren Yüce  (2010)


 
 
 
 
 

Filme centrado numa micro-família da Turquia moderna, em especial na complexa relação entre um pai autoritário e o seu melancólico filho (em torno do qual a ação gira). Banhado numa atmosfera densa, crua.


sábado, 20 de janeiro de 2018

Pantheist - "The loss of innocence", "Broken statue" e "Brighter days"


"The loss of innocence", "Broken statue" e "Brighter days" são três composições da banda britânica Pantheist. A primeira pertence ao álbum «Journey Through Lands Unknown» (2008). As outras duas ao álbum «Pantheist» (2011).










"E todos acenámos que sim com a cabeça: o homem das finanças, o homem da contabilidade, o homem das leis, todos acenámos que sim àquela mesa polida que, como um lençol de água turva, reflectia os nossos rostos, vincados, engelhados; os nossos rostos marcados pela faina, por decepções, pelo sucesso, pelo amor; os nossos olhos exaustos que continuam à espera, permanentemente à espera, ansiosamente à espera de algo da vida, que se esvai enquanto se espera – passa desapercebida, como um suspiro, como um lampejo – a par da juventude, da pujança, do romance das ilusões."



JOSEPH CONRAD, Juventude (tradução de Bárbara Pinto Coelho)